quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dança de Gente Madura


No último post falei sobre a minha expectativa em ver o espetáculo de Mikhail Baryshnikov e Ana Laguna. Para mim, assisti-los no palco do Teatro Alfa já seria maravilhoso. Entretanto, consegui algo inesperado: participar da coletiva de imprensa com os bailarinos. A matéria, publicada no Diário do Grande ABC, segue abaixo.

Ontem, assisti a Três Solos e Um Dueto. Magnífico vê-los tão bem em cena. Baryshnikov com sua fluência de movimentos impecável, vista apenas em gênios; Ana Laguna com uma energia arrebatadora. Quem a viu na coletiva não poderia imaginar que ela fosse dona de tanta força. Lindas também foram as reverances em que os artistas se mostravam felizes e de fato agradecidos pelo momento. Ao final, a cortina subiu três vezes, mas não sei quantos minutos duraram as palmas.



Na saída para o hotel, Baryshnikov atendeu aos pedidos dos fãs. Ao som de "I love you", "Bravo, Misha" e mais palmas, ele fez questão de autografar o programa do espetáculo.

Enfim, amigos. Que noite!

(Aguardem mais fotos de Baryshnikov tiradas por minha amiga Lu Sá).



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A batalha começou há mais de 50 anos e ainda não acabou. A tal peleja - sem perdedor ou vencedor - é travada diariamente por Mikhail Baryshnikov, 62 anos, durante trabalho com a dança. "Você luta com o corpo a cada ano, a cada dia e a cada segundo. Não é sempre uma experiência prazerosa. Na maior parte do tempo é dolorosa, mas tem de ser feita."


Ao esforço exaustivo, o bailarino e a espanhola Ana Laguna, 54, estão habituados. Assim, a aposentadoria permanece distante. Tanto que em 2009, estrearam o espetáculo contemporâneo Três Solos e Um Dueto, projeto idealizado pelo coreógrafo sueco Mats Ek, marido de Ana. A première aconteceu em Estocolmo. Também estiveram em outros países da Europa e nos Estados Unidos.


Nesta semana, desembarcaram no Brasil, por onde iniciam turnê sul-americana. Passarão por São Paulo, com espetáculo hoje, às 21h, no Teatro Alfa, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília e Manaus, onde encerram temporada no Teatro Amazonas. Na maioria das cidades, os ingressos esgotaram em cerca de quatro dias.


No início da semana, a dupla concedeu entrevista coletiva na Capital. Tímida, Ana foi quem menos falou. "Prefiro dançar a responder perguntas." Coube ao dono dos reluzentes olhos azuis oferecer a maioria das respostas aos jornalistas.


As coreografias de Três Solos e Um Dueto foram feitas ou adequadas ao corpo e possibilidades dos veteranos. Entretanto, o público não deve confundir maturidade com limitação. Em Place, de Mats Ek (que também assina Solo For Two), a dupla mostra grande vigor durante ininterruptos 22 minutos. No programa, há ainda Valse-Fantasie, do russo Alexei Ratmansky, e Years Later, do francês Benjamin Millepied.


Em nenhuma das peças coreográficas os bailarinos interpretam personagens. "Somos nós. Não estamos fazendo nenhum papel. É muito tarde em nossas vidas para isso", ressalta Baryshnikov.


Histórias com personagens são características do balé clássico, estilo com o qual ele e Ana iniciaram a carreira. Mas isso foi há muito tempo e desse mundo, confessam, não sentem saudade.


Entretanto, o bailarino revela que não abandonou as aulas de balé; as faz constantemente para preparar o corpo. Também aderiu à ioga e fisioterapia. Faz o que for necessário para cumprir aquilo que se propôs a fazer. "Nunca é fácil acordar, trabalhar todo o dia e se apresentar. Mas esse é o trabalho", afirma Baryshnikov, que nasceu em Riga, Letônia (ex-integrante da União Soviética) e exilou-se em 1974 no Canadá.


BRASIL

Baryshnikov esteve no Brasil pela última vez em 2007 com a companhia Hell''s Kitchen Dance. "É grande responsabilidade dançar neste País porque há fatores genéticos e culturais que fazem com que o público brasileiro saiba o que é bom e o que não é." Ana esteve aqui em quatro ocasiões.


Apesar de ser uma das grandes lendas vivas da dança, Baryshnikov rejeita título de o melhor do século 20. "Não é esporte. Alguns gostam do meu trabalho, outros não. É uma opinião subjetiva. Fazemos o que temos de fazer. Quem é o melhor ou está no topo não importa. É uma grande tolice."


Arrependimentos? Baryshnikov menciona um: não ter trabalhado com a coreógrafa Pina Bausch, que faleceu em 2009, pouco antes de se apresentar no Brasil. Defeitos? "Felizmente ou infelizmente, não sei, nunca tive talento e gêneses para coreografar. Não sou escritor, pintor, cineasta. Sou apenas bailarino, um instrumento na mão de outras pessoas."


E sobre o adeus aos palcos? "Se vou sentir falta quando parar de dançar um dia? Provavelmente. Mas eu não sei. Só vou descobrir quando acontecer."


Matéria publicada no Diário do Grande ABC em 20 de outubro.

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