quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ana Botafogo apresenta Marguerite e Armand no Alfa

Ana Botafogo estará no Teatro Alfa, em São Paulo, neste sábado (24) e domingo (25), para apresentar Marguerite e Armand. O espetáculo faz parte das comemorações de 35 anos de carreira de Ana e 30 anos como primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

O balé - um dos meus preferidos - é a versão de A Dama das Camélias, coreografada por Sir Frederick Ashton, em 1963, especialmente para Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev. A música é de Liszt. Não sabia, mas a montagem esteve no Brasil em 1967. Quem não conhece, pode conferir a postagem sobre Marguerite e Armand (com vídeos) que fiz há alguns meses.

Federico Fernández, primeiro bailarino do Teatro Colón, na Argentina, será o partner de Ana. Marcelo Misailidis - antigo companheiro nos palcos da bailarina - interpretará o pai de Armand; Joseny Coutinho fará o duque. Iván Rutskauska, pianista do Colón, tocará a obra do compositor húngaro. A regência será do maestro Henrique Morelenbaum, que esteve na estreia de Ana como primeira bailarina do Municipal, em 1981, no balé Coppélia. Ele também regeu para Margot Fonteyn quando a inglesa esteve no Brasil, em 1967.

"Pensei muito até definir qual personagem eu interpretaria. Queria algo novo, que nunca tivesse dançado. Quando me ocorreu a Marguerite, não tive dúvida. Há alguns anos Dalal Achcar e Peter Wright sugeriram que este era um balé talhado para mim. Pouco depois foi a vez de Bibi Ferreira dizer que havia visto Margot dançar, que esta coreografia tinha elementos dramáticos e ela me imaginava neste papel. Decidi-me. É um papel sob medida para este momento da minha carreira, para uma bailarina experiente e com tantos anos de estrada. Marguerite e Armand é a culminância dos clássicos que já encenei nestes 35 anos", disse Ana.


O espetáculo ainda terá Ana e Joseny na coreografia Sabiá, de Vasco Wellenkamp, além da participação de Cia Jovem de Ballet do Rio de Janeiro com Mozarteando e FugA_Technic@.

Não tenho dúvidas de que a apresentação será maravilhosa. Mas não me estenderei em elogios sobre Ana neste post. Prometo que em breve escreverei algo bacana sobre ela. Enquanto isso, divido com vocês vídeo em que a bailarina faz o Grand Pas de Deux de Esmeralda com o cubano Lienz Chang no Festival de Joinville, em 1984. O engraçado é que esse vídeo era superdifícil de encontrar. Lembro que há quase 10 anos uma grande professora minha teve de encomendá-lo para remontar o pas de deux. Ficamos em polvorosa quando a fita VHS chegou à escola!

ONDE - Ana Botafogo - 35 Anos de Carreira no Teatro Alfa (Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em São Paulo. Sábado (24), às 21h, e domingo (25), às 18h. Ingresso: R$ 40 e R$ 100.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Marcelo Gomes no Brasil com a São Paulo Companhia de Dança e as loucuras para vê-lo

Foto: Wilian Aguiar/ Divulgação

Para variar, essa história já deveria estar no Blog há dias, mas... Não me estenderei em justificativas.

Fiquei maluca ao descobrir que o Marcelo Gomes dançaria com a São Paulo Companhia de Dança nos dias 26 e 27 de agosto no Teatro Alfa, em São Paulo. Os amigos sabem que quando o assunto é ballet - e, claro, não estou no papel de jornalista - sou tiete sem dó. Não sosseguei até comprar o ingresso. Contei até com a ajuda da 'santa chefe' para retirá-lo em um ponto de venda autorizado.

Escolhi a sexta para assisti-lo; iria com algumas alunas. Mas, no fim, apenas a Laura me acompanhou. E começa a confusão... Como motorista, dou para o gasto. Problema mesmo é minha inteligência espacial ou, melhor, a falta dela. Imaginava estar segura; nada daria errado, afinal, o GPS me ajudava. Errado. Acredite, usá-lo é uma arte, pelo menos para mim.

Sabia a metade do caminho, entretanto, resolvi 'escutar' a mocinha do GPS desde o ponto de partida. Após muitas trapalhadas, chegamos na Marginal Pinheiros. Ufa! Faltavam apenas nove minutos até o teatro. Estávamos superanimadas, pois tínhamos cerca de 40 minutos até o início do espetáculo. E, então, a bateria do aparelho acaba. A Laura liga para a Marília, minha grande amiga, que começa a nos ajudar.

- Onde você está, Ju?
- Na Marginal.
- O que você está vendo?
- Tem uma placa sentido Morumbi. Mas a última mensagem do GPS mandava virar à direita.
- Não, Ju, segue em frente que você está certa.

É lógico que eu não estava. Para resumir, entrei em uma pequena rua e ao ver um taxista não tive dúvida: "O senhor pode me guiar até o Teatro Alfa?" O tempo não passava, corria. E o desespero aumentava. "Vou chorar. Mas, calma, ele deve ser o último número, não?" Chegamos ao Alfa 15 minutos atrasadas. Ao subir as escadarias vejo pelo monitor um casal fazendo reverence. O coração vem até a boca. "Perdemos o Marcelo. Não acredito." Estava tão alucinada que não percebi um detalhe: a túnica da bailarina era curta. Já o figurino feminino de Tchaikovsky Pas de Deux - ballet que Marcelo dançaria com Paula Penachio - é comprido.

Ao sentar, pergunto para a senhora ao meu lado: "Por favor, esse foi o Marcelo Gomes?" E ela responde: "Não sei." Após eternos segundos, a confirmação: "Não, ele é o terceiro." Preciso falar o tamanho da minha alegria?

Perdi Legend (1972), pas de deux coreografado por John Cranko, que teve como solistas Luiza Lopes e Norton Fantinel. Pena. Entretanto, cheguei a tempo para Inquieto, contemporâneo de Henrique Rodovalho. Mas a coreografia seguinte é o tema deste post.

No livro Santa Evita, o autor Tomás Eloy Martínez escreve: "Essa, pensava eu, é a desgraça da linguagem escrita. Pode ressuscitar os sentimentos, o tempo passado, os acasos que enlaçam um fato a outro, mas não pode ressuscitar a realidade." Assim, temo não fazer jus ao que vi.

Já na entrada do pas de deux deu para notar que a noite seria deles. O primeiro port de brás (movimento de braço) de Paula me encantou. Ela irradiava felicidade, talvez por dançar com Marcelo. O amazonense é uma estrela, e este não é comentário de fã. Segundo o New York Times, o primeiro bailarino do American Ballet Theater é um dos poucos a reunir três qualidades imprescindíveis: além de ótimo bailarino, é excelente partner e ator.  

Para a bailarina, isso nem sempre é algo bom. Usando um jargão da dança, quando o bailarino é um virtuoso pode 'engolir' a mulher em cena. Não foi o que aconteceu. Paula deu conta - e muito bem - do recado. Tchaikovsky, coreografado por Balanchine, é um pas de deux difícil, cheio de idas e vindas. A solista não falhou. O casal esteve tecnicamente impecável. Mas essa não foi a melhor parte.

Paula e Marcelo mostraram grande afinidade. No palco, pareciam se amar de verdade. Não sei como isso nasceu. Imagino que tiveram pouco tempo de ensaio. A única certeza é que durante oito minutos - tempo da coreografia - os dois me sacudiram, me fizeram chorar, rir e querer levantar da poltrona. Há muito tempo queria me sentir assim.

A plateia os aplaudiu em pé. Após a reverence, Paula ajoelhou na frente de Marcelo, segurando suas mãos. Parecia não ter palavras para agradecer. Rapidamente ele a fez levantar. Deu um abraço gostoso e apertado na pequena. Depois, entregou as flores que recebeu para ela.

No dia anterior tinha assistido ao Lago dos Cisnes com o Kirov. Confesso que, apesar da beleza, produção e técnica impecáveis, os russos não 'mexeram' comigo da mesma forma que Paula e Marcelo. Até pensei estar exagerando. Por sorte, meu amigo Erinaldo - que não poupa críticas a ninguém - sentiu-se do mesmo modo que eu!

A noite terminou com a boa estreia de Supernova, do alemão Marco Goecke, e com a volta tranquila para casa. A essa altura ainda estava sob o efeito Tchaikovsky, Marcelo e Paula. Quando a arte - dança, música, cinema ou o que for - causa esse tipo de reação em mim, fico ainda mais emocionada por me achar abençoada e privilegiada. Penso que é o meu momento de entrar em contato com algo divino.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Para lembrar de você...

Ela não foi bailarina. Na realidade, nunca entrou num teatro. Não me viu dançar, mas sabia que eu fazia ballet. A gente não tinha o mesmo sangue, mas isso nunca importou. Assim como pai e mãe é quem cria, avó é aquela que dá carinho e se preocupa com a gente.

Lembro de ver a vó Belmira fazer chá com raspa de chifre queimado, só não recordo a doença que eu tinha nem o gosto da bebida. Lembro da vez em que me ensinou a fazer simpatia - "Três, dois, uma, íngua nenhuma" - para acabar com as ínguas que me atormentavam naquelas férias. Lembro de escutá-la conversar com o papagaio e o periquito com quase duas décadas de idade. Lembro das risadas ao me ver fugir das borboletas.

Lembro do cachimbo que ela pitava no cantinho da casa já no fim do dia. As demonstrações de afeto eram diferentes. Nada de beijos e abraços, manifestavam-se por meio dos pães-de-queijo e petas que ela fazia apenas para agradar a gente; o café também, porém, desse eu não gostava muito. Era ralinho e doce demais para o meu gosto. Mas isso não podia revelar para a vó.

Lembro de vê-la chamar as galinhas - "Tititititi" - que iriam para a panela e de me chamar de Julia, quase sem pronunciar a letra i. Lembro de ela mostrar os ovos com casca verde e azul, algo que impressiona qualquer criança boba da cidade. Lembro de ela queimar o algodão e misturá-lo com borra de café para estancar o sangue do dedo do meu irmão, cortado imprudentemente por facão. Lembro de ela cuidar do vô octogenário na cadeira de rodas, numa casa sem energia elétrica, sem água encanada e longe de qualquer recurso.

Lembro de muitas outras coisas... Do adeus no portão, com lágrimas nos olhos, porque era hora de voltar para São Paulo. A fé era das mais bonitas! Até quando pôde, carregou o tercinho nas mãos para rezar. Certa vez, contou-me, o padre disse que ela não precisava ir à missa tantas vezes por semana. Então, respondeu: "Vou porque quando eu estiver ruim e não puder mais ir, Deus vai me perdoar". Não tenho dúvida de que o perdão foi concedido.

A vó queria ter aprendido a ler e escrever. "Uma vez veio a professora e a mamãe mandou a gente pra escola. Mas só durou dois meses. Depois, ela foi embora. Pedia: 'Mamãe, deixa eu ir para a escola'. Mas não tinha dinheiro. O tiquinho (pouquinho) que aprendi treinei bastante. Consigo assinar meu nome e ler alguma coisinha", falou um tanto chateada.

Pensei em escrever esse texto há alguns dias, enquanto ela ainda estava na Terra; algo do tipo Canção (nesse caso, palavras) pra Você Viver Mais. Não deu. Era hora de partir.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Fonteyn e Nureyev - Marguerite e Armand


Meu casal favorito na dança sem nenhuma dúvida é Nureyev e Margot Fonteyn. A bailarina inglesa estava se aposentando quando, em 1962, o russo apareceu na sua vida. Tinham 20 anos de diferença. Nada, porém, os impediu de ficarem juntos por 15 anos. E que dupla formavam!

Aqui vocês encontram mais informações sobre as duas estrelas.

Confiram os vídeos em que interpretam Marguerite e Armand. O balé foi coreografado por Sir Frederick Ashton, em 1963, especialmente para eles. A música é de Liszt. O trabalho é inspirado em A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas.

Na temporada de primavera de 2010 do American Ballet, Marcelo Gomes também viveu Armand. No entanto, a coreografia é outra: A Dama das Camélias, do norte-americano John Neumeier, diretor do Hamburg Ballet, na Alemanha. A música é de Chopin. Gostaria de ter visto!


domingo, 13 de março de 2011

Billy Elliot


Para dar sequência aos posts sobre filmes de dança, escolhi Billy Eliot. O longa britânico (um dos meus preferidos) é sensacional. Faz a gente rir, chorar, torcer. E olha que a opinião não é só minha. Familiares e amigos que o assistiram contam que se emocionaram com a história.

Lançado em 2000 e dirigido por Stephen Daldry (estreia do cara no cinema), fala sobre o menino de 11 anos, de uma pequena cidade inglesa, que troca as luvas de boxe pelas sapatilhas. As dificuldades são as mesmas enfrentadas ainda hoje por grande parte dos garotos que deseja se dedicar à dança.

Billy começa a frequentar as aulas de balé escondido da família: pai e irmão mais velho - mineiros e machões - e avó. A mãe tinha morrido. Com a ajuda da professora nada convencional, Sra. Wilkinson (Julie Walters), aprende os primeiros passos. Em pouco tempo, ela percebe que o menino nasceu para a arte. Assim, propõe que ele faça teste para entrar na renomada Royal Ballet School.

Convencer o Sr. Jackie Elliot (Gary Lewis) de que essa é a melhor escolha para Billy não é tarefa fácil. A opinião do pai, porém, muda quando vê o rebento dançar. Numa sequência de cenas belíssima, percebe que o futuro do menino pode ser diferente, bem longe das minas de carvão.

Uma das partes mais bacanas também é o fim do teste de Billy, no qual diz aos examinadores o que sente ao dançar. É de arrepiar! Na realidade, muitas cenas causam essa sensação.

Além do roteiro e trilha, as atuações são ótimas, principalmente a de Jamie Bell, que interpreta Billy. Na época, o ator tinha 14 anos. Billy Elliot se transformou em musical de sucesso em 2005, com música de Elton John. Em 2009 ganhou 10 Tony Awards, incluindo de melhor musical.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O balé está morrendo?


Estava no Terminal Tietê, no domingo (6), quando vi a capa do Estadão numa banca. A chamada da matéria principal do Caderno 2 me fez comprar o jornal rapidamente.

O texto - cujo título é Última Dança? -, de Francisco Quinteiro Pires, fala sobre o polêmico livro Apollo's Angels, escrito pela ex-bailarina e crítica de dança Jennifer Homans. A obra, lançada nos Estados Unidos no fim de 2010, foi eleita uma das melhores do ano pelo New York Times.

O livro mostra o desenvolvimento do balé ao longo dos últimos três séculos. Segundo Jennifer, também explica o que acontece atualmente com a arte, tentando estabelecer debate sobre a decadência da mesma.

"A coreografia contemporânea é tediosa, metódica, acrobática; ela deixa de lado a poesia e a criação de significado. Pode até ser tecnicamente sensacional, mas raras vezes é capaz de estimular as nossas emoções. O balé parece ter sido retirado da nossa vida, como se não fizesse parte do que somos."

Polêmica? O balé está mesmo acabando? Ainda estou refletindo. E vocês?

Veja a matéria completa aqui.

Escolhi para esse post um vídeo que me emociona demais. A sensacional italiana Carla Fracci fazendo a cena da loucura de Giselle (a melhor na minha humilde opinião). A versão, de 1968, é do American Ballet; o dinamarquês Erik Bruhn interpreta o príncipe Albretch. Recordo a primeira vez que a assisti. Lembra disso, Petito? Faz um tempão.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Morte do Cisne e suas versões

Após a dúvida do meu amigo Marcio Hasegava (aqui), resolvi fazer um post sobre John Lennon da Silva. Demorei para postar esse texto por falta de tempo. Não queria escrever qualquer coisa.

O garoto de 20 anos emocionou muita gente - incluindo o exigente jurado João Wlamir - com uma versão de A Morte do Cisne, apresentada no programa Se Ela Dança, Eu Danço (SBT). A coreografia de John foi inspirada no balé criado pelo russo Mikhail Fokine, em 1907.

A obra original foi feita para a bailarina Anna Pavlova, lenda do balé clássico. A música é de O Carnaval dos Animais, do francês Camille Saint-Saens. Aliás, a melodia é sensacional. Para mim, dá para sentir a dor e a tristeza do bicho que agoniza antes de morrer.

John captou a mensagem e concebeu o seu cisne se aproximando da morte. Não precisou de sapatilhas e tutu para isso. Com tênis, camisa e calça jeans, mostrou que tem muito talento; é artista de verdade.

Meus amigos sabem que sou defensora do balé clássico, porém, sem nunca deixar de criticá-lo. Temos de avançar muito na arte, principalmente no Brasil. Por isso, a dança de John Lennon da Silva não só emociona, também faz a gente pensar: por onde anda a arte do balé capaz de nos fazer chorar ou vibrar?

Margot Fonteyn, Carla Fracci, Ana Botafogo (só para citar algumas) roubam meu coração enquanto eu as assisto. John Lennon - apesar de não integrar o mundo da dança clássica - também o raptou por alguns minutos.

Quero mais bailarinos me comovendo dessa forma. Quatro pirouéttes e perna na cabeça impressionam; só isso. A pessoa que se emociona com uma interpretação, em geral, não a esquece.

Essa discussão não acaba por aqui. Para quem ainda não viu ou para aqueles que desejam rever, seguem abaixo as duas versões de A Morte do Cisne.



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Última Dança

Gosto muito de A Última Dança (One Last Dance), principalmente das cenas em que Patrick Swayze dança. Que braços! Era um baita artista no palco. A mãe era bailarina, por isso, desde criança teve contato direto com o balé. Aliás, foi na escola da mãe que conheceu a esposa Lisa Niemi, com a qual permaneceu casado por 34 anos. "É a minha melhor aluna. Se fizer mal a ela, acabo com você", disse a genitora ao filho.

Lisa escreveu, protagonizou e dirigiu o longa. Talentosa, arrasa nas coreografias aos 47 anos! Salta, gira, sobe as pernas. É fácil perceber que a beleza das danças do casal se deve muito à afinidade entre ela e o marido.

Em A Última Dança (2003), três bailarinos veteranos reencontram-se após a morte do diretor da companhia em que atuavam. Travis (Swayze), Chrissa (Lisa) e Max (George De La Pena, também ótimo) aceitam o desafiam de dançar a obra inédita que o coreógrafo morto criou para eles 7 anos atrás. Essa é a única maneira de salvar a cia. No entanto, o retorno não é tão fácil assim. O trio tem de curar feridas fisicas e emocionais antes das luzes do palco acenderem novamente e da música começar.

Para quem aprecia maturidade e competência em cena, o filme é prato cheio. Não é difícil encontrar o DVD; vira e mexe também passa na TV.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Momento de Decisão


Pensei em aproveitar Cisne Negro para falar sobre filmes de dança. O primeiro escolhido é o drama Momento de Decisão (The Turning Point, 1977), um dos meus preferidos. Não pela presença de Baryshnikov, acredite. O roteiro é ótimo. As protagonistas são - e estão - sensacionais: Shirley MacLaine e Anne Bancroft. A direção é do bailarino e coreógrafo Herbert Ross.

Quando jovens, as amigas Deedee (Shirley) e Emma (Anne) dedicavam-se exclusivamente ao balé. Mesmo muito talentosa, a primeira deixa o sonho para casar, ter filhos e se transformar em dedicada dona-de-casa. A amiga segue rumo oposto; abdica de tudo para se tornar grande estrela da dança.


Ambas voltam a se aproximar quando Emilia (Leslie Browne), filha de Deedee, entra para a companhia de Emma. Assim, a amizade e principalmente frustrações por escolhas do passado e ressentimentos afloram novamente. Ponto alto do filme é a cena memorável em que as amigas discutem, se estapeiam e, ao fim, riem de si mesmas. Emociona.

Baryshnikov interpreta o bailarino russo e mulherengo Yuri Kopeikine, pelo qual Emilia se apaixona. Aliás, o papel da garota seria da bailarina norte-americana Gelsey Kirkland, que não aceitou participar da produção.

Momento de Decisão recebeu 11 indicações ao Oscar de 1978: melhor filme, diretor, atriz (para Shirley e Anne), ator coadjuvante (Baryshnikov), atriz coadjuvante (Leslie), fotografia, direção de arte, roteiro original, montagem e som. No entanto, saiu sem nenhum prêmio; pena. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, ganhou as principais categorias naquele ano. O longa de Ross levou dois Globos de Ouro, melhor filme/drama e diretor.




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em busca da perfeição


Odette é a princesa aprisionada no corpo de cisne. Somente o amor verdadeiro pode desfazer o feitiço imposto por Von Rothbart. A salvação surge na forma de um príncipe apaixonado. A esperança de ser liberta, no entanto, se esvai quando o amado a confunde com uma criatura fisicamente idêntica, mas de personalidade completamente diversa.

A partir do balé mais conhecido do mundo - O Lago dos Cisnes -, o diretor Darren Aronofsky (O Lutador) constrói Cisne Negro, que estreia hoje nos cinemas. Até então, parecia improvável fazer um suspense psicológico, que pende para o drama e o terror, ambientado no universo da dança clássica. Mas torná-lo possível não é o único triunfo.

Nina Sayers (Natalie Portman) é escolhida para estrelar a nova produção de uma grande companhia de dança nova-iorquina. A bailarina é a personificação do cisne branco, puro, casto e ingênuo. Mas em O Lago dos Cisnes também é preciso encarnar o cisne negro, representante da maldade, luxúria e sensualidade.

Desafiada pelo diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel), Nina se esforça para encontrar em si qualidades necessárias para viver seu antônimo no palco. A busca desesperada pela perfeição faz com que, aos poucos, perca o já desgastado fio que a liga à realidade.

Assim como há o amaldiçoado Macbeth - capaz de enlouquecer atores - para o teatro, o balé tem Odette (o bem) e Odille (o mal). Interpretar figuras tão opostas no mais alto nível artístico requer maturidade psicológica, mais do que técnica.

Com fidelidade, Cisne Negro se apropria do que ocorre nos bastidores da dança, para surpresa dos leigos acostumados a associar o balé à delicadeza. Aronofsky sempre soube da verdade porque testemunhou a árdua trajetória de sua irmã como bailarina.

Tudo está no longa. A estrela veterana que não aceita a aposentadoria (Beth Macintyre, vivida por Winona Ryder), o diretor que se aproveita das ambiciosas aspirantes, a mãe dominadora e ex-bailarina frustrada (Erica, Barbara Hershey), o corpo de baile que deseja o lugar da solista, os distúrbios alimentares, as dores e até mesmo os estranhos rituais de preparação da sapatilha.

O balé, como todas as artes, consome seus súditos e os transforma em escravos, dispostos a sacrificar o corpo, saúde, família e o que mais precisar para chegar cada dia mais perto do topo. Apesar da devoção, Nina fica a ponto de sucumbir às pressões, principalmente após a chegada da talentosa e sedutora concorrente Lily (Mila Kunis).

De fato, muitos bailarinos têm trajetória semelhante à de Nina fora das telas. Para entendê-los melhor, Natalie Portman se submeteu a meses de aulas e ensaios rigorosos, estudou muito e emagreceu 10 kg. Descobriu que no balé o limite entre a beleza e a dor extrema praticamente inexiste. Resultado: excelente atuação que a faz merecedora de todos os prêmios. Possivelmente, já tenha o Oscar garantido.

A obsessiva Nina de Portman assusta e arrebata. Sim. Ao custo de muito sacrifício, chega à perfeição: descobre o cisne negro em si, conquista os "bravos" da plateia e junto ao cisne branco encontra liberdade e redenção. O preço é caro. Mas ela não foi a primeira, nem será a última.

Por Juliana Ravelli
Matéria publicada no Diário do Grande ABC em 4 de fevereiro





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