domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Morte do Cisne e suas versões

Após a dúvida do meu amigo Marcio Hasegava (aqui), resolvi fazer um post sobre John Lennon da Silva. Demorei para postar esse texto por falta de tempo. Não queria escrever qualquer coisa.

O garoto de 20 anos emocionou muita gente - incluindo o exigente jurado João Wlamir - com uma versão de A Morte do Cisne, apresentada no programa Se Ela Dança, Eu Danço (SBT). A coreografia de John foi inspirada no balé criado pelo russo Mikhail Fokine, em 1907.

A obra original foi feita para a bailarina Anna Pavlova, lenda do balé clássico. A música é de O Carnaval dos Animais, do francês Camille Saint-Saens. Aliás, a melodia é sensacional. Para mim, dá para sentir a dor e a tristeza do bicho que agoniza antes de morrer.

John captou a mensagem e concebeu o seu cisne se aproximando da morte. Não precisou de sapatilhas e tutu para isso. Com tênis, camisa e calça jeans, mostrou que tem muito talento; é artista de verdade.

Meus amigos sabem que sou defensora do balé clássico, porém, sem nunca deixar de criticá-lo. Temos de avançar muito na arte, principalmente no Brasil. Por isso, a dança de John Lennon da Silva não só emociona, também faz a gente pensar: por onde anda a arte do balé capaz de nos fazer chorar ou vibrar?

Margot Fonteyn, Carla Fracci, Ana Botafogo (só para citar algumas) roubam meu coração enquanto eu as assisto. John Lennon - apesar de não integrar o mundo da dança clássica - também o raptou por alguns minutos.

Quero mais bailarinos me comovendo dessa forma. Quatro pirouéttes e perna na cabeça impressionam; só isso. A pessoa que se emociona com uma interpretação, em geral, não a esquece.

Essa discussão não acaba por aqui. Para quem ainda não viu ou para aqueles que desejam rever, seguem abaixo as duas versões de A Morte do Cisne.



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Última Dança

Gosto muito de A Última Dança (One Last Dance), principalmente das cenas em que Patrick Swayze dança. Que braços! Era um baita artista no palco. A mãe era bailarina, por isso, desde criança teve contato direto com o balé. Aliás, foi na escola da mãe que conheceu a esposa Lisa Niemi, com a qual permaneceu casado por 34 anos. "É a minha melhor aluna. Se fizer mal a ela, acabo com você", disse a genitora ao filho.

Lisa escreveu, protagonizou e dirigiu o longa. Talentosa, arrasa nas coreografias aos 47 anos! Salta, gira, sobe as pernas. É fácil perceber que a beleza das danças do casal se deve muito à afinidade entre ela e o marido.

Em A Última Dança (2003), três bailarinos veteranos reencontram-se após a morte do diretor da companhia em que atuavam. Travis (Swayze), Chrissa (Lisa) e Max (George De La Pena, também ótimo) aceitam o desafiam de dançar a obra inédita que o coreógrafo morto criou para eles 7 anos atrás. Essa é a única maneira de salvar a cia. No entanto, o retorno não é tão fácil assim. O trio tem de curar feridas fisicas e emocionais antes das luzes do palco acenderem novamente e da música começar.

Para quem aprecia maturidade e competência em cena, o filme é prato cheio. Não é difícil encontrar o DVD; vira e mexe também passa na TV.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Momento de Decisão


Pensei em aproveitar Cisne Negro para falar sobre filmes de dança. O primeiro escolhido é o drama Momento de Decisão (The Turning Point, 1977), um dos meus preferidos. Não pela presença de Baryshnikov, acredite. O roteiro é ótimo. As protagonistas são - e estão - sensacionais: Shirley MacLaine e Anne Bancroft. A direção é do bailarino e coreógrafo Herbert Ross.

Quando jovens, as amigas Deedee (Shirley) e Emma (Anne) dedicavam-se exclusivamente ao balé. Mesmo muito talentosa, a primeira deixa o sonho para casar, ter filhos e se transformar em dedicada dona-de-casa. A amiga segue rumo oposto; abdica de tudo para se tornar grande estrela da dança.


Ambas voltam a se aproximar quando Emilia (Leslie Browne), filha de Deedee, entra para a companhia de Emma. Assim, a amizade e principalmente frustrações por escolhas do passado e ressentimentos afloram novamente. Ponto alto do filme é a cena memorável em que as amigas discutem, se estapeiam e, ao fim, riem de si mesmas. Emociona.

Baryshnikov interpreta o bailarino russo e mulherengo Yuri Kopeikine, pelo qual Emilia se apaixona. Aliás, o papel da garota seria da bailarina norte-americana Gelsey Kirkland, que não aceitou participar da produção.

Momento de Decisão recebeu 11 indicações ao Oscar de 1978: melhor filme, diretor, atriz (para Shirley e Anne), ator coadjuvante (Baryshnikov), atriz coadjuvante (Leslie), fotografia, direção de arte, roteiro original, montagem e som. No entanto, saiu sem nenhum prêmio; pena. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, ganhou as principais categorias naquele ano. O longa de Ross levou dois Globos de Ouro, melhor filme/drama e diretor.




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em busca da perfeição


Odette é a princesa aprisionada no corpo de cisne. Somente o amor verdadeiro pode desfazer o feitiço imposto por Von Rothbart. A salvação surge na forma de um príncipe apaixonado. A esperança de ser liberta, no entanto, se esvai quando o amado a confunde com uma criatura fisicamente idêntica, mas de personalidade completamente diversa.

A partir do balé mais conhecido do mundo - O Lago dos Cisnes -, o diretor Darren Aronofsky (O Lutador) constrói Cisne Negro, que estreia hoje nos cinemas. Até então, parecia improvável fazer um suspense psicológico, que pende para o drama e o terror, ambientado no universo da dança clássica. Mas torná-lo possível não é o único triunfo.

Nina Sayers (Natalie Portman) é escolhida para estrelar a nova produção de uma grande companhia de dança nova-iorquina. A bailarina é a personificação do cisne branco, puro, casto e ingênuo. Mas em O Lago dos Cisnes também é preciso encarnar o cisne negro, representante da maldade, luxúria e sensualidade.

Desafiada pelo diretor Thomas Leroy (Vincent Cassel), Nina se esforça para encontrar em si qualidades necessárias para viver seu antônimo no palco. A busca desesperada pela perfeição faz com que, aos poucos, perca o já desgastado fio que a liga à realidade.

Assim como há o amaldiçoado Macbeth - capaz de enlouquecer atores - para o teatro, o balé tem Odette (o bem) e Odille (o mal). Interpretar figuras tão opostas no mais alto nível artístico requer maturidade psicológica, mais do que técnica.

Com fidelidade, Cisne Negro se apropria do que ocorre nos bastidores da dança, para surpresa dos leigos acostumados a associar o balé à delicadeza. Aronofsky sempre soube da verdade porque testemunhou a árdua trajetória de sua irmã como bailarina.

Tudo está no longa. A estrela veterana que não aceita a aposentadoria (Beth Macintyre, vivida por Winona Ryder), o diretor que se aproveita das ambiciosas aspirantes, a mãe dominadora e ex-bailarina frustrada (Erica, Barbara Hershey), o corpo de baile que deseja o lugar da solista, os distúrbios alimentares, as dores e até mesmo os estranhos rituais de preparação da sapatilha.

O balé, como todas as artes, consome seus súditos e os transforma em escravos, dispostos a sacrificar o corpo, saúde, família e o que mais precisar para chegar cada dia mais perto do topo. Apesar da devoção, Nina fica a ponto de sucumbir às pressões, principalmente após a chegada da talentosa e sedutora concorrente Lily (Mila Kunis).

De fato, muitos bailarinos têm trajetória semelhante à de Nina fora das telas. Para entendê-los melhor, Natalie Portman se submeteu a meses de aulas e ensaios rigorosos, estudou muito e emagreceu 10 kg. Descobriu que no balé o limite entre a beleza e a dor extrema praticamente inexiste. Resultado: excelente atuação que a faz merecedora de todos os prêmios. Possivelmente, já tenha o Oscar garantido.

A obsessiva Nina de Portman assusta e arrebata. Sim. Ao custo de muito sacrifício, chega à perfeição: descobre o cisne negro em si, conquista os "bravos" da plateia e junto ao cisne branco encontra liberdade e redenção. O preço é caro. Mas ela não foi a primeira, nem será a última.

Por Juliana Ravelli
Matéria publicada no Diário do Grande ABC em 4 de fevereiro





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