quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Marcelo Gomes no Brasil com a São Paulo Companhia de Dança e as loucuras para vê-lo

Foto: Wilian Aguiar/ Divulgação

Para variar, essa história já deveria estar no Blog há dias, mas... Não me estenderei em justificativas.

Fiquei maluca ao descobrir que o Marcelo Gomes dançaria com a São Paulo Companhia de Dança nos dias 26 e 27 de agosto no Teatro Alfa, em São Paulo. Os amigos sabem que quando o assunto é ballet - e, claro, não estou no papel de jornalista - sou tiete sem dó. Não sosseguei até comprar o ingresso. Contei até com a ajuda da 'santa chefe' para retirá-lo em um ponto de venda autorizado.

Escolhi a sexta para assisti-lo; iria com algumas alunas. Mas, no fim, apenas a Laura me acompanhou. E começa a confusão... Como motorista, dou para o gasto. Problema mesmo é minha inteligência espacial ou, melhor, a falta dela. Imaginava estar segura; nada daria errado, afinal, o GPS me ajudava. Errado. Acredite, usá-lo é uma arte, pelo menos para mim.

Sabia a metade do caminho, entretanto, resolvi 'escutar' a mocinha do GPS desde o ponto de partida. Após muitas trapalhadas, chegamos na Marginal Pinheiros. Ufa! Faltavam apenas nove minutos até o teatro. Estávamos superanimadas, pois tínhamos cerca de 40 minutos até o início do espetáculo. E, então, a bateria do aparelho acaba. A Laura liga para a Marília, minha grande amiga, que começa a nos ajudar.

- Onde você está, Ju?
- Na Marginal.
- O que você está vendo?
- Tem uma placa sentido Morumbi. Mas a última mensagem do GPS mandava virar à direita.
- Não, Ju, segue em frente que você está certa.

É lógico que eu não estava. Para resumir, entrei em uma pequena rua e ao ver um taxista não tive dúvida: "O senhor pode me guiar até o Teatro Alfa?" O tempo não passava, corria. E o desespero aumentava. "Vou chorar. Mas, calma, ele deve ser o último número, não?" Chegamos ao Alfa 15 minutos atrasadas. Ao subir as escadarias vejo pelo monitor um casal fazendo reverence. O coração vem até a boca. "Perdemos o Marcelo. Não acredito." Estava tão alucinada que não percebi um detalhe: a túnica da bailarina era curta. Já o figurino feminino de Tchaikovsky Pas de Deux - ballet que Marcelo dançaria com Paula Penachio - é comprido.

Ao sentar, pergunto para a senhora ao meu lado: "Por favor, esse foi o Marcelo Gomes?" E ela responde: "Não sei." Após eternos segundos, a confirmação: "Não, ele é o terceiro." Preciso falar o tamanho da minha alegria?

Perdi Legend (1972), pas de deux coreografado por John Cranko, que teve como solistas Luiza Lopes e Norton Fantinel. Pena. Entretanto, cheguei a tempo para Inquieto, contemporâneo de Henrique Rodovalho. Mas a coreografia seguinte é o tema deste post.

No livro Santa Evita, o autor Tomás Eloy Martínez escreve: "Essa, pensava eu, é a desgraça da linguagem escrita. Pode ressuscitar os sentimentos, o tempo passado, os acasos que enlaçam um fato a outro, mas não pode ressuscitar a realidade." Assim, temo não fazer jus ao que vi.

Já na entrada do pas de deux deu para notar que a noite seria deles. O primeiro port de brás (movimento de braço) de Paula me encantou. Ela irradiava felicidade, talvez por dançar com Marcelo. O amazonense é uma estrela, e este não é comentário de fã. Segundo o New York Times, o primeiro bailarino do American Ballet Theater é um dos poucos a reunir três qualidades imprescindíveis: além de ótimo bailarino, é excelente partner e ator.  

Para a bailarina, isso nem sempre é algo bom. Usando um jargão da dança, quando o bailarino é um virtuoso pode 'engolir' a mulher em cena. Não foi o que aconteceu. Paula deu conta - e muito bem - do recado. Tchaikovsky, coreografado por Balanchine, é um pas de deux difícil, cheio de idas e vindas. A solista não falhou. O casal esteve tecnicamente impecável. Mas essa não foi a melhor parte.

Paula e Marcelo mostraram grande afinidade. No palco, pareciam se amar de verdade. Não sei como isso nasceu. Imagino que tiveram pouco tempo de ensaio. A única certeza é que durante oito minutos - tempo da coreografia - os dois me sacudiram, me fizeram chorar, rir e querer levantar da poltrona. Há muito tempo queria me sentir assim.

A plateia os aplaudiu em pé. Após a reverence, Paula ajoelhou na frente de Marcelo, segurando suas mãos. Parecia não ter palavras para agradecer. Rapidamente ele a fez levantar. Deu um abraço gostoso e apertado na pequena. Depois, entregou as flores que recebeu para ela.

No dia anterior tinha assistido ao Lago dos Cisnes com o Kirov. Confesso que, apesar da beleza, produção e técnica impecáveis, os russos não 'mexeram' comigo da mesma forma que Paula e Marcelo. Até pensei estar exagerando. Por sorte, meu amigo Erinaldo - que não poupa críticas a ninguém - sentiu-se do mesmo modo que eu!

A noite terminou com a boa estreia de Supernova, do alemão Marco Goecke, e com a volta tranquila para casa. A essa altura ainda estava sob o efeito Tchaikovsky, Marcelo e Paula. Quando a arte - dança, música, cinema ou o que for - causa esse tipo de reação em mim, fico ainda mais emocionada por me achar abençoada e privilegiada. Penso que é o meu momento de entrar em contato com algo divino.

5 comentários:

  1. Umas duas semanas antes da dançar com o 1º bailarino do American Ballet Theatre (Marcelo Gomes), a Paula Penachio me deixou uma mensagem IN BOX no facebook me avisando que dançaria com ele nos dias 26 e 27... mas do que rápido chamei alguns amigos pra irem comigo e tratei de comprar os ingressos. Não perderia por nada essa apresentação... adoro ver o Marcelo Gomes dançar, mas até hoje só o vi dançando 3 vezes... em Joinville com Cecília Kerche, com a Cia Cisne Negro em Quebra Nozes e agora c/ a Paula Penachio dançando Tchaikovsky Pas de Deux. Bom, eu já não me lembrava mais da última vez que tinha me emocionado até as lágrimas com uma apresentação de dança... e isso aconteceu na noite desse sábado 27 de agosto... a Paula c/ aquela segurança IMPERTUBÁVEL e o Marcelo fazendo jus aos adjetivos com os quais o The New York Times o definiu... BAILARINO, ATOR E PARTNER... ao final da apresentação não pensei duas vezes fiquei IMEDIATEMENTE em pé aplaudindo-os com MUITA emoção... ao vê-lo ajoelhar-se e colocar o buquê de flores que recebeu nos pés da Paula... entendi porque ele foi considerado pela crítica de dança Gia Kourlas "o Cary Grant do ballet". PARABÉNS à esses dois bailarinos que nos encantam não pela quantidade de piruetas, pela altura dos grand jetés ou pela altura dos developpés, mas pela ARTE, a arte da dança. BRAVO, BRAVO, BRAVO!!! Beijo Ravelli! Erinaldo Conrado

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  2. Jú parabéns, adorei o texto e adorei o comentário do Erinaldo, porque concordo que há muito tempo não vejo a arte e a emoção de estar nos palcos e de dançar!Vejo apenas "pernas nas orelhas, milhares de piruetas..." O que na verdade não me encanta nem um pouco!Só mais um adendo...Pq você não me chamou pra assistir também hein dona Ravelli?!?!!?
    Bjãooo
    Karen Calmona

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  3. Parabéns Ravelli por amar essa arte e colocar com sabias palavras e beleza desse momento mágico. Não estive presente a esse grande evento, por causa da agenda de São Paulo, que parece fazer de proposito - unir dois grandes e maravilhosos eventos desse porte na mesma data. Passamos meses sem um colirio da arte e qdo vem, chega em dose cavalar! Mas enfim... por esses comentarios, me senti literalmente na plateia, vivenciando todas as emoções descritas por vcs...
    É maravilhoso poder viver td isso e ainda discutir e aprender cada vez mais com pessoas tão queridas e proximas.
    É evidente que o Brasil emociona e possue qualidades insuperaveis. O Caminho apesar de arduo, esta sendo trajado aos poucos por essa arte tão perfeita e encantadora. Beijos a vcs Ju, Eri e Ká.
    Cris Shimizu

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  4. Olá, amei seu blog! Obrigada por me o ter dado a conhecer! Bj da Gisela

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